Talvez nunca tenha havido um 2 de abril como o que teremos hoje. Num momento em que todos se voltam para a pandemia da Covid-19, não há como não lembrar dos primeiros confinamentos que o autismo nos impôs. Tivemos a fase dos questionamentos como "espera aí, deve ter uma outra saída", do "como assim, não tem cura?!" E muitos outros. E ainda depois de todas as respostas levarem a um mesmo caminho, negamos para nós mesmos. Não é humanamente possível admitir de um dia para o outro que não depende de você e de seus esforços. Não dá para aceitar que a vida não poderá mais ser aquela que planejáramos. Mesmo tendo feito a nossa parte. Então, com o passar do tempo, aceitamos e passamos a dar o nosso melhor movidos pela fé. Voltamos a sorrir e, saindo da zona de conforto, vemos que temos muito mais a aprender do que a ensinar. Percebemos que sempre há amor para recomeçar uma nova história. Contudo, o tempo passou e não somos mais quem éramos no princípio. Tivemos, sim, que deixar de frequentar alguns lugares que gostávamos para evitar barulho, aglomeração, luzes e sobrecarga sensorial àqueles que dependiam de nós. Tivemos, sim, que abrir mão do convívio social e isso passou a ser o de menos. Passamos a contentarmo-nos com um olhar carinhoso de alguém, com um sorriso distante e com algumas mensagens de carinho em meio a tantas outras vezes que passamos invisíveis. Neste 02 de abril de 2020, estamos todos vicenciando a sensação de perder o controle, de não dar importância ao que não é relevante, de medo do futuro incerto. Nós, pais e familiares de autistas, que temos nosso espaço assegurado na mídia e na agenda de políticos e governantes nesta época do ano, temos algo a dizer: diferentemente do autismo, a Covid-19 vai passar, pois todo o planeta está empenhado nisso. Todos os recursos estão sendo disponibilizados para isso. Todavia, quem sabe, possamos renascer com mais empatia, mais carinho e, principalmente, mais respeito às dores alheias. Às famílias de autistas e a eles, o meu carinho e respeito, pois tenho certeza de que vocês estão vivendo com resiliência essa pandemia.
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